Mecanica Quantica 01

 A Mecanica Quântica e o pensamento e Amit Goswani - Paulo Nuno T P Martins


A Física Clássica (Mecânica, Electromagnetismo) propõe uma descrição determinista do Universo. 

A Mecânica Quântica tem a este respeito um esquema que parece paradoxal a quem se formou na mentalidade clássica. 

Um sistema físico é definido por uma função de estado (“função de onda” ou “vector de onda”), e tudo o que se pode saber sobre o sistema num dado instante está contido na função de onda (que designaremos por Ψ). Se a função de onda é uma descrição do sistema, com alguma parecença com aquilo que classicamente se chama “imagem” ou “descrição” é uma questão filosófica em aberto, havendo duas atitudes fundamentais: 

a) Bohr que defende que esta é uma questão ociosa, pois tudo o que adianta é saber que da função de onda se tiram conclusões objectivas; 

b) Penrose que é um pouco mais “realista”, atribuindo uma realidade física objectiva na descrição quântica, denominada por estado quântico, isto é, Ψ descreve a “realidade” do mundo. 

Como quer que seja, o que a Mecânica Quântica tem de mais bizarro vem a seguir: a Equação de Schrödinger dá-nos a evolução da função de onda Ψ ao longo do tempo, sendo esta completamente determinista (que designaremos por Q). Contudo, sempre que “fazemos uma medição” desencadeia-se um processo pouco elaborado de transposição dos fenomenos do mundo linear e simples do nível quântico, para o mundo real da experimentação. 

Este processo envolve o chamado «colapso da função de onda» ou «Redução do vector de estado» (que designaremos por R), sendo este procedimento quem introduz a incerteza na Teoria Quântica. Assim, enquanto que o processo determinístico Q é o que tem envolvido a maior parte do trabalho dos físicos, por seu lado, os filósofos têm estado mais intrigados com o processo não-determinístico da «Redução do vector de estado» R, tendo este processo levantado várias questões filosóficas fundamentais, nomeadamente como e quando é que se verifica a «Redução do vector de estado»? Será que são necessários observadores (ou seres conscientes) para se verificar a «Redução do vector de estado»? E, qual é o mecanismo do cérebro/mente quando se dá a «Redução do vector de estado»? 

A este propósito, Roger Penrose crê que é necessária uma teoria que incorpore aquilo a que se chama a «Redução objetiva da função de onda», na qual a consciência tenha um papel fundamental. É este exatamente o objetivo principal desta tese. 

De fato, autores recentes como Amit Goswami, cientista nascido e formado na Índia e, atualmente professor de Física Quântica na Universidade de Oregon (E.U.A.), defende que os célebres paradoxos da Mecânica Quântica poderão ser “entendidos” quando vistos à luz das filosofias da Índia, particularmente através da filosofia do idealismo monista. 

É certo que o problema do conhecimento tem atravessado toda a filosofia Ocidental, embora os pensadores não europeus tenham sido em geral ignorados, (excepção feita à cultura Islâmica, com a qual houve algum contacto desde o século XII). Já no século XIX, e sobretudo no século XX, surge um interesse pelas filosofias da Índia, introduzindo a ideia de que na sagacidade da Índia, a questão do conhecimento reserva surpresas para quem se limitou a estudar apenas a cultura e a filosofia Ocidental. 

É um fato curioso que os fundadores da Mecânica Quântica tinham alguns conhecimentos das filosofias do Oriente: Schrödinger tinha algum conhecimento das filosofias da Índia, Bohr tinha algum contato com as concepções de Buda e Lao-Tse, mais adiante encontramos obras como o “Tao da Física”, de Capra, ou o “Congresso de Córdova de 1979” que sugerem que as filosofias da Índia são o meio natural para pensar a Mecânica Quântica. Assim, este trabalho é uma contribuição para um estudo mais profundo deste tema.

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